Agricultura Regenerativa
A agricultura e pecuária sempre tiveram um papel relevante para a sociedade, principalmente ao que se refere a PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, FIBRA E ENERGIA. Contudo nos últimos anos, face o crescente aumento da população e as novas demandas mundiais este setor vem atuando em diversas outras frentes como a produção de fertilizantes de origem orgânica, madeira, plantas medicinais, serviços ambientais (água, sequestro de carbono) entre outros bens necessários, na busca e promoção de um Planeta mais sustentável.
Como a “ação” do momento é a sustentabilidade e qualidade dos alimentos, pesquisas são realizadas a todo momento visando implementar medidas mais coerentes com as demandas da sociedade. Muito tem se falado em agricultura Certificada, Orgânica, Sistemas Agroflorestais (SAF’s), Agricultura verde, indicações geográficas biodinâmica, etc, cada qual com suas particularidades, mas em todas há uma congruência: Um modelo de produção mais justos e ambientalmente adequado para todos os elos da cadeia (solo, ar, água, plantas, animais, homens, mulheres). Portanto não basta apenas produzir alimentos, há necessidade de promover uma Agricultura Regenerativa.
Estes sistemas de produção de alimentos devem atuar em várias escalas com manutenção e regeneração dos ambientes produtivos. Deve atender pequenos, médios e grandes produtores em todas as regiões do planeta. Para isso precisamos trabalhar com pesquisa, extensão e inovação no campo da Agricultura Regenerativa. Sem dúvidas é um grande desafio, haja vista que é muito comum o discurso “Não temos como produzir alimentos para toda a população neste modelo de produção”. Porém com dedicação, novas ideias, motivação; a agricultura regenerativa poderá se tornar base e modelo para uma agricultura sustentável, amiga do meio ambiente e com uma alta produção.
Se pararmos para pensar e analisar a cem anos atrás, que teríamos mais de 8 bilhões de pessoas para alimentarmos e que conseguiríamos fazer isso, nem os mais otimista acharia isso possível, tanto é que a teoria “Malthusiana” caiu por terra (população cresceria segundo uma progressão geométrica e a produção de alimentos cresceria segundo uma progressão aritmética). Vale a ressalva que o problema mundial da fome não está na falta de alimentos produzidos mas, sim na desigualdade social e no desperdício em todas suas formas.
Como estamos rumo ao novo modelo de produção que de “novo não há nada”, pois estamos “imitando” nossos antepassados produzindo alimentos de várias espécies num mesmo espaço, sendo que o “novo” está no uso de diferentes técnicas e tecnologias para darmos escala a esta produção. Só conseguiremos essa produção de alimentos e continuaremos nesse caminho com a certeza do engajamento de produtores, técnicos, pesquisadores, professores, empresas públicas e privadas e demais profissionais do setor. Provavelmente fazendo um retrospecto da década de 2020 em 2070, vamos nos espantar porque achávamos que a produção regenerativa não era possível.
Saindo do aspecto filosófico para a prática da Agricultura regenerativa, esta muda todos os parâmetros de uma agricultura convencional por unir em uma mesma área espécies com distintas finalidades mas que se complementam.
É uma agricultura baseada em processos naturais e sucessivos, onde as espécies são selecionadas estrategicamente para cumprirem serviços no sistema, como por exemplo gramíneas para geração de biomassa, plantas fixadoras de nitrogênio, árvores específicas que serviram para produção de bio-insumos diminuindo a necessidade externa e o consumo de água. Há espécies para produção de alimentos, medicamentos, fibra, energia, adubação verde, biomassa, recuperação do solo, etc. Essa “interlocução” entre as espécies permite a proteção do solo, aumento da capacidade de infiltração de água, maior quantidade de macro e microrganismos, sequestro de carbono, redução da amplitude térmica e dos efeitos nefastos da geada nas plantas. Nesse contexto, o empresário do meio rural será um grande produtor de alimentos e serviços ambientais.
Uma das técnicas praticadas na agricultura regenerativa é a adoção de sistemas integrados, lavoura, pecuária, floresta, diminuindo custos, aumentando o ganho de produtividade e de sustentabilidade e propiciando o aumento da produção sem a necessidade do aumento de área.
Dessa forma a Agricultura Regenerativa é um processo que vai além da sustentabilidade, pois estamos falando de regenerar ou seja repor o que foi extraído e reconstruir o que foi comprometido, aumentando o impacto positivo da prática.
No campo da pesquisa os cientistas devem “descobrir” os melhores arranjos produtivos, com redução da aquisição de insumos externos, maior eficiência no uso dos recursos disponíveis visando o equilíbrio do agroecossistema. O serviço de extensão deve entender o sistema para indicar a melhor proposta para cada nível de produtor, haja vista que tudo é muito dinâmico e particular.
Nos dias atuais os produtos produzidos neste sistema ainda têm um valor agregado em função da restrição das ofertas por se tratar de um nicho, mas a médio prazo é de se esperar que estes valores sejam os de mercado sendo acessível a todos.
Em pesquisa realizada no Sítio do café dos contos, pelos pesquisadores e discentes do IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes, temos como objetivo avaliar as melhorias no sistema produtivo local a curto, médio e longo prazo caracterizando os benefícios do SAF’s dentro de uma agricultura regenerativa e avaliar o desempenho da propriedade como um todo. Neste primeiro momento estamos avaliando as diversas áreas da propriedade e analisando a qualidade do solo, por meio da macrofauna, microrganismos, sequestro de carbono, capacidade de retenção de água, densidade e compactação do solo. Estão sendo monitoradas 6 áreas:
– SAF 1 (Sistema Agroflorestal) de café cultivar Catucaí amarelo 2 SL plantado em uma área de 1 ha no espaçamento de 1 metro x 1 metro cultivado em linha dupla implantado em novembro de 2018 (Figura 1). O SAF é consorciado com castanha Macadâmia, banana, cedro australiano, ingá e brachiaria spp. nas entrelinhas;
– SAF 2 de café cultivar Catucai amarelo2 SL cultivado em linha dupla em uma área de 0,25 ha, sendo consorciado com limão cravo, limão siciliano, tangerina murcot e com espécies nativas da mata atlântica (Figura 2);
– Área de Regeneração Natural (Figura 3;
– Área de floresta composta por espécies da Mata Atlântica em estado intacto (Figura 4);
– Área de Restauração com o plantio de mudas da mata Atlântica (Figura 5);
– Área de pastagem (Figura 6).
Na primeira pesquisa realizada com a macrofauna do solo, ficou evidente a similaridade do SAF 1 com a área da mata (Figura 4), ou seja, em pouco mais de 2 anos as duas áreas já apresentam características semelhantes, evidenciando a melhorias das propriedades do solo na área do SAF 1 (Figura 1).
Autor: Bruno Manoel Rezende de Melo, Tecnólogo em Cafeicultura, Doutor em Agronomia/Fitotecnica. IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/4059991435170878
Autor: Thalia Rosa da Silva, Graduanda em Engenharia Agronômica. IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1656227409589947
Autor: Igor Igorevitch Pushnoff, Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental. IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.
Autor: Roger Couto Fernandes, Engenheiro Agrônomo. IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.