Produção de mudas cafeeiras: vantagens, desvantagens e limitações no uso de substrato tradicional e comercial

Todos os anos são produzidas milhões de mudas cafeeiras no Brasil, para atender a demanda de renovação do nosso parque cafeeiro. Contudo grande parte das mudas ainda são produzidas no sistema tradicional que consiste no uso de solo de barranco, esterco bovino (Figura 1) utilizando como recipientes saquinhos de polietileno.

Figura 1 – Produção de mudas de café com substrato tradicional em recipiente de polietileno. Fonte: Reis (2021)

Estes sistemas apresentam grandes inconvenientes, pois o substrato utilizado a partir de solo e esterco podem ser disseminadores de plantas daninhas, doenças fúngicas como fusarium e rizoctoniose e algumas espécies de nematoides. Problemas estes que podem comprometer o potencial produtivo das lavouras bem como sua longevidade.

Além dos problemas agronômicos este processo ainda apresenta o inconveniente ergonômico pois o sistema de produção é no chão (Figura 2), dessa forma todas as atividades são realizadas pelos colaboradores sentados ou agachados, podendo trazer problemas osteomusculares a médio e longo prazo.

Figura 2 – Produção de mudas de cafeeiro no solo. Fonte: Reis (2021)

Verificando pelo lado econômico, este tipo muda ocupa maior espaço nos viveiros, maior uso de água, maior volume de substrato além da dificuldade de transporte devido ao seu peso e espaço ocupado pelas mudas.

Em função de tudo que foi relatado, resta apenas uma dúvida. Porque ainda são produzidas mudas neste sistema? Não há alternativas?

Sim, existem alternativas. Há possibilidade de produção em sistema de tubete ou mesmo em bandejas, as quais evitam todos os problemas relatados e ainda há possibilidade de aquisição de mudas de melhor qualidade. Também permitem bom desenvolvimento radicular fino (Figura 3), sem formação de “pião torto” ou raiz pivotante com problemas. Vários artigos científicos denotam essa melhor qualidade. Recentemente publicamos um artigo demonstrando estes resultados, a qual pode ser acessado pelo seguinte link (https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/12073).

Como tudo na vida nem tudo são vantagens, há também algumas limitações.

Figura 3 – Sistema radicular de mudas produzidas em tubete. Fonte: Rezende (2021)

O sistema de produção de mudas em tubete exige maior investimento inicial (tubetes, fertirrigação e estrutura de bancadas) (Figura 3, 4, e 5), contudo este investimento é pago a médio prazo. Outra limitação é nos pós plantio, pois mudas produzidas em substrato comercial em tubetes, ao irem para o campo perdem facilmente água para o ambiente, devendo o cafeicultor planejar um sistema para molhar ou irrigar as mudas nos pós plantio caso seja necessário.

Figura 3 – Sistema de produção de mudas de cafeeiro em tubetes. Fonte: Rezende (2021)
Figura 4 – Sistema de irrigação e fertirrigação para produção de mudas de cafeeiro. Fonte: Rezende (2021)
Figura 5 – Bancadas para produção de mudas de cafeeiro em tubetes. Fonte: Rezende (2021)

Contudo, se possível, um plantio em meados de novembro (época em que não há seca), e utilizando mudas de três pares de folhas definitivas faz com que estas mudas mais novas transpirem menos água, perdendo menos água para o ambiente quando comparado com as mudas mais velhas.

Caso esse plantio antecipado não seja possível, apontamos outra alternativa para essa limitação com o uso do hidrogel, que já é muito usado no plantio de eucalipto. A quantidade a ser usada deve ser verificada com um técnico responsável, trazendo mais segurança para os produtores rurais e até mais qualidades para as mudas no pós plantio, pois esse produto retém água no solo por mais tempo, proporcionando uma hidratação contínua.

Fora estas limitações e cuidados o sistema é muito vantajoso para toda cadeia do café. Traz qualidade a mais para planta, tendo maior vigor vegetativo e mais praticidade no plantio e manuseio da muda. Considerando que será uma cultura que ficará no mínimo 20 anos no campo, estes cuidados devem ser avaliados evitando erros que dificilmente serão corrigidos com a lavoura implantada.

Caso ocorra erros teremos as seguintes situações: perda de produtividade, aumento de custos com implantação de novas plantas e o risco de contaminar o solo com substrato contaminado com doenças e ou nematoides, as quais não apresentam solução eficaz.

Autor: Bruno Manoel Rezende de Melo, Tecnólogo em Cafeicultura, Doutor em Agronomia/Fitotecnica. IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.

Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/4059991435170878

Autora:Luana Auxiliadora de Resende, Engenheira Agrônoma e Tecnóloga em Gestão Ambiental, Mestrado em Andamento – Ciência e Engenharia Ambiental. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1277960987369187

Autora: Juciana de Cassia Afonso, Graduanda em Engenharia Agronômica – IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.

Currículo lattes:  http://lattes.cnpq.br/0738738370728083

Autora: Pollyanna de Fátima Borges, Graduanda em Engenharia Agronômica – IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.

Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/6718127975789120

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