Sarau na casa da vovó Hygina

Vovô Simão era Simões de Araújo lá na Bahia. Já em solo mineiro, “somos todos pitaguary”. Era como se dizia em território indígena. Não sei dizer como as mais de 200 tribos de hoje identificam-se.

A escrita sempre foi instrumento poderoso para os que muito tem a dizer e que, na maioria das vezes, estão à margem da sociedade. A sorte é que vivem corajosamente um outro tipo de existência.

Vejamos.

Por quê Consuelo? Não àquela de Antoine de Saint-Exupéry. Seria a de Castro Alves? Ou a do escritor George Sand, o mais popular e notável romance europeu de 1842? Escritor ou escritora? Explico mais adiante.

Mas lá em casa, na antiga rua das Flores, vovô Simão quis por certo homenagear a sua amada esposa com um dos mais lindos poemas de Castro Alves. Será no “Boa Noite” que ele encontra a sua Julieta? Ou a sua Marion?

Pode ser também que, por aqueles dias, tenha lido Victor Hugo e encontrado colo na heroína Marion de Lorme (1831). Daí tenham resolvido chamar vovó de Consuelo, a espanhola sensual.

Existem várias maneiras de se amar uma mulher. Todos os escritores sabem disso.

Joaquim Pitaguary deve ter escolhido agir solidário a uma das mulheres mais notáveis de sua época – que vestia-se de homem e fumava em público – sem jamais perder a doçura. Que escrevia divinamente no periódico de sua propriedade, o “La Revue Indépendante”. Que, por dez anos, foi amante de Frédéric Chopin; amiga íntima de Gustave Flaubert e da atriz e exímia pianista Marie Dorval.

Honoré de Balzac, Eugène Delacroix e Walt Whitman consideravam o romance “Consuelo” (escrito por ela sob o pseudônimo de George Sand) um de seus favoritos.

Aurore, como gostava de ser chamada, é citada “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust. Virginia Woolf tinha o romance como um dos seus preferidos.

Eu não poderia inaugurar o espaço sem falar da Consuelo Pitaguary, esta que vos escreve agora.

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