HISTÓRIA DE OURO FINO: CHICO ABREU E O BODE PRETO

A família de seu Zico se encontrava numa penúria danada. A fome e a miséria extrema já incomodavam a sua vizinhança na Avenida Velha, num recanto de Ouro Fino.
Naquele ano, a geada dizimara grande parte dos cafezais, provocando a diminuição na renda dos cafeicultores e, conseqüentemente, a dispensa dos trabalhadores daquele importante setor da economia local.
Com Seu Zico não se dera diferente, perdera o seu emprego nas lidas do cafezal. Sua mulher, dona Terezinha, se socorria da caridade da vizinhança, pedindo, a um e a outro, uma colher de sopa de pó de café para fazer uma coada rala de manhã, único sustento para seus cinco filhos. Ela, muito católica, de joelhos colado no chão passava grande parte do tempo a pedir a São Francisco de Paula, santo de sua devoção, uma ocupação para seu marido e alimentos para seus filhos.
Numa reunião ordinária da Maçonaria de Ouro Fino “Deus e Caridade,” Chico Abreu levou, aos obreiros daquela casa, as dificuldades pelas quais enfrentava a família de seu Zico. No final da reunião, os irmãos presentes, reforçaram a coleta de dinheiro para a compra de uma completa cesta de alimentos, destinada àquela sofrida família.
Dona Terezinha, muito cedo ainda, de colher na mão, abre a porta da rua e encontra na pequena varanda uma farturosa cesta de alimentos diversos. E aos gritos, chama pelo marido:

  • Zico!…, Zico!…Zico!…São Francisco de Paula atendeu meus pedidos e mandou alimentos para nossa família.
    Seu Zico e dona Terezinha, abraçados e ajoelhados, choraram juntos pela graça de Deus que alcançaram.
    Toda vizinhança estupefata tomou conhecimento daquela graça divina. A notícia daquele milagre se espalhou por toda a pequena cidade de Ouro Fino.
    Monsenhor Teófilo Guimarães, vetusto vigário da paróquia de Ouro Fino, se impressionou com aquele acontecimento, mas cauteloso desejava fazer uma maior averiguação para levar a notícia ao conhecimento do Bispo de Pouso Alegre.
    Não foi difícil descobrir num armazém perto da linha da estrada de ferro, na entrada da Rua Velha, que fora Chico Abreu quem fizera aquelas compras.
    Monsenhor Teófilo ficou extremamente irritado. Aquilo não era de Deus, era do diabo.
    Chico Abreu era conhecido maçom na cidade. Comentava-se, à boca pequena, que, para se iniciar na maçonaria, necessário montar num capeta, vindo diretamente do inferno na forma de um bode preto.
    Dona Terezinha, ao confessar aquilo, que pensava um milagre, foi condenada à pesadas penitências.
    Chico Abreu continuou na montaria do bode preto até sua morte.
    Ulisses Abreu
    20/12/2022

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