INFIDELIDADE CONJUGAL

– Dr. Mirandinha, procurei o senhor pra me desquitar. Homem que é homem não suporta chifre ou mata ou desquita.

Dr. Mirandinha viu que Zé Pequeno se encontrava naquele momento totalmente descontrolado e obtemperou:

– Que aconteceu, Sr. José?

A medida que Zé Pequeno expunha os fatos ao seu advogado se exaltava e demonstrava ira e o rancor incontidos.

– Aquela desgraçada da minha mulher está me traindo com o cabo da polícia militar do destacamento de Ouro Fino. Se o Senhor não me desquitar logo, tenho que matar o safado do cabo e aquela sem vergonha da minha mulher.

– Não, Sr. José, não tem que matar ninguém. Vamos separar judicialmente você e depois pode reconstruir sua vida com outra pessoa.

Dr. Mirandinha, tradicional advogado criminalista de Ouro Fino, com voz conciliadora, tentou acalmar Zé Pequeno e lhe perguntou:

– Você tem provas robustas de que sua mulher está lhe traindo? _ Prova, prova, Dr., eu não tenho, mas meu vizinho, meu irmão de Igreja, não ia mentir pra mim.

Viu quando o cabo entrou na minha casa e as portas e janelas foram fechadas. Isso lá pelas duas e trinta da tarde. Mais tarde, o cabo saiu, pegou o carro da polícia e foi embora. Não tenho dúvida, o cabo estava “costurando” a minha mulher.

E Dr. Mirandinha:

– Ele confirma isso na justiça?

– Isso eu não tenho certeza, mas acho que ele não confirma. Todo mundo aqui na cidade tem medo do Cabo. Ele é muito vingativo. Então é só matando essa desgraça.

– Não, Sr. José, deixemos esses trágicos pensamentos pra lá. Vamos fazer um flagrante delito. Vamos pegar sua mulher e o Cabo de Calças curtas.

Você fala pra sua mulher que vai para Inconfidentes trabalhar e se esconde no quintal. Faz um furo na janela do seu quarto e eu converso com o detetive Jairzinho e nós armamos um flagrante delito. Ora que o Cabo entrar na casa e as portas e janelas se fecharem, você vai olhar pelo buraco da janela. Quando sua mulher e o cabo já se encontrarem na cama pelados você chama Jairzinho, arrombam a porta da cozinha e fazem o flagrante delito. Não tem erro. A prova está feita.

Tudo falado e combinado. Agora é aguardar o grande dia da vingança contra os traidores. As portas e janelas se fecharam. Zé Pequeno tremia em cima de uma pilha de tijolas, que armara, para alcançar os olhos no buraco da janela. A visão do quarto de casal era boa para Zé Pequeno, mas a

ansiedade naquele momento era enorme. Um turbilhão de pensamentos corriam pela sua cabeça.

Agora sim, Zé Pequeno estático vira toda a cena se desenrolar naquele quarto. Não teve ânimo nem coragem de tomar nenhuma providência. O flagrante delito se frustrara.

No dia seguinte no escritório do Dr. Mirandinha, Zé Pequeno com um fino desapontamento, mas com os olhos flamejantes de admiração e prazer, foi logo dizendo:

– Doutor, não vou querer desquitar mais. Quanto é o seu trabalho?

E Dr. Mirandinha intrigado:

– Por que Sr. José?

– Dr. Mirandinha, o Senhor precisava ver minha mulher pelada. Que monumento de mulher. Que corpo escultural e que par de coxa, Doutor?

E o Doutor admirado, obtemperou:

– A primeira coisa que a gente põe de lado são as coxas, Sr. José.

– Não Doutor, a minha mulher na cama é uma verdadeira cobra. Como sabe mexer, costura bem de mais, Doutor. Eu que não sabia o “mulheraço” que tenho. Agora vou dar um castigo nela…

Ulisses Abreu

02/11/2021

Deixe um comentário