Inconfidentes, A Terra do Mamute

Não, não vou falar do proprietário rural, no município de Ouro Fino, o sr.
Alvarenga Peixoto, um dos inconfidentes.

Muito menos da atual Inconfidentes, da bela e prazerosa flor de cidade,
que brotou nas margens do rio Mogi.

Quero falar da “Sede” dos meus tempos de menino. Logo após a ponte
sobre o Rio Mogi, começava uma larga avenida arborizada. As casas, em
sua maior parte, se localizavam do lado direito da via de terra batida.

Do lado esquerdo, a elegante igreja e, acima um pouco, o grande prédio
do temido Patronato.

PATRONATO

Os pais costumavam ameaçar os filhos relapsos no estudo:

se você, menino, tomar bomba, vou te mandar pro Patronato, viu?
Tomei bomba do terceiro para o quarto ano primário. Meu pai, quando
teve a notícia, ficou furioso.
-Só o Patronato pra esse menino…


Eram as longas férias de final de ano, entretanto meu pai simulara uma
bela repreensão.

Colocou minhas poucas roupas embrulhadas em um
lençol, um cabo de vassoura como suporte e me pôs à pé estrada à fora
para fazenda de meu avô que se localizava poucos quilômetros da Sede,
às margens do Mogi.

E recomendou:

Você não quer estudar, vai ser trabalhador rural, até que o Patronato
abra as aulas.


As minhas lágrimas de arrependimento caíram copiosas durante aquela
jornada à pé.


Nesses três meses de férias, trabalhei na “panha” de café, na batida do
feijão, na capina do milho, mas gostava mesmo, quando meu avô me
mandava comprar sal e querosene na venda do Mamute, lá na Sede.


Mamute era um turco, que viera junto com os espanhóis e, como eles,
se localizou na cidade do Reformatório.


Apesar de ainda não falar bem o português, se mostrava um excelente
comerciante. Seu bazar era um verdadeiro “furdunço”. Tinha de tudo,
desde um grampo para cabelo até um tecido para roupa.

De açúcar
mascavo a um par de espora. Tudo junto e misturado. Dominava o
insipiente comercio local.


Tenho belas recordações também dos petiscos que eram produzidos na
Sede.
Enquanto o cavalo cavalgava de volta pra fazenda de meu avô, roía o
bolachão, comprado da Dona Carmem, uma espanhola que vendia
guloseimas debaixo de uma árvore, que hoje, tem seu tronco bordado
em crochê.


As férias acabaram. Meu pai me mandou buscar na fazenda de meu avô.
Continuei os meus estudos em Ouro Fino e fui escolhido orador da turma
por ser um dos melhores alunos.
Inconfidentes não sai dos meus sonhos e devaneios…

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