HISTÓRIA DE OURO FINO: O PADRE E O CAIXÃO!
Havia gente novo na Vila de São Francisco de Paula de Ouro Fino. Corria entre algumas carolas
a notícia de que chegara um padreco novo para dar assistência espiritual aos moradores da
Vila.
Segundo Carlotinha, que com ele tivera, era um padre “batina nova”, recém ordenado.
Chamava-se José de Paula. Deus me perdoe a má palavra era novo e bonitão.
Padre José, no sermão da primeira missa, deixou claro aos fiéis ali presentes, que não mais
recomendaria corpos dos falecidos, trazidos na igrejinha em bangue. Era ordem da Diocese.
Essa notícia desagradou muito as pessoas da Vila. Maioria delas eram pessoas pobres, que
viviam de pequenos roçados ou na bateia que pouco produzia. Realmente não tinham
condições de comprar ou mandar fazer um caixão.
Diante da nova realidade, Padre José se preocupou muito. Não queria que seus fiéis fossem
enterrados sem passar na igreja e o corpo não ser remendado.
Numa reunião com a comunidade, Miguelão do Zote deu uma sugestão que todos os
presentes acataram, inclusive o Padre.
Com o dinheiro arrecadado de uma festinha religiosa, o Padre comprou um caixão, fez um
cômodo de pau a pique e colocou o caixão naquele lugar. Os mortos eram levados para aquele
lugar no Bangue e transferidos para o caixão e, assim, o corpo era recomendado. Depois
jogados na vala do cemitério e o Caixão voltava pra casinha até servir para outro morto.
Era o caixão único e comunitário, que serviu por muito tempo a Vila de São Francisco de Paula
de Ouro Fino.
Ulisses Abreu
(Os fatos dessa história me foram narrados por Carlos Santos Abreu. Foto: Arquivo Nacional)