HISTÓRIA DE OURO FINO

CAPITULO II

TOM MIX – O INJUSTIÇADO

– Tire esse ladrãozinho de Ouro Fino da algema. Ele passou à noite atrelado à grade do presídio por falta de vaga na cela 402: – disse o chefe da carceragem ao detetive de plantão, que acabara de chegar, às 8:30 da manhã, ainda sonolento.

Tiãozinho, de olhos avermelhados da noite não dormida, não tinha mais lágrimas para chorar. Não pensava tanto nas dores que sentia nos punhos apertados pelas algemas, pensava somente no sofrimento de sua velha mãe em Ouro Fino, se naquele momento presenciasse o martírio de seu filho preso injustamente naquela delegacia. Apanhar papelão na rua para sobreviver não configurava crime algum, entretanto não lograram êxito as suas súplicas diante de frias e impiedosas autoridades.

Tiãozinho interrompeu os seus pensamentos diante da chegada de dois advogados. Poucas conversas dos causídicos com o delegado e os dois verdadeiros ladrões de porta de Banco saíram abraçados com seus defensores, numa verdadeira afronta à sociedade.

– Até que se apure a ficha corrida desse larápio de Ouro Fino, mande-o para o presídio do Carandiru. Aqui não tem vaga pra ele – determinou o  austero delegado.

Durante o trajeto da Delegacia ao Carandiru, Tiãozinho se recordava de seus fregueses de picolé em Ouro Fino:

 Seu Tufi, em frente ao Bar do Paulo, às vezes nem queria o picolé, dava-lhe uma moeda…

Ah! seu Gustavo Barbosa, ele… não gostava de injustiça. Se me visse nessa situação…Não me deixaria ser preso…

(Foto site ambiente legal)

Nesse momento os pesados portões do Presídio do Carandiru se abrem. Tiãozinho entrava agora para sua nova escola de vida.

Jogado na cela 4242, Tiãozinho já de uniforme do presídio, se surpreendeu com o ar pesado daquele novo ambiente. Os presidiários que lotavam aquela cela, transferiram a ele um ar de amargura dissimulada com um sorriso forçado nos lábios.

Um dos presos mais ousados, JOSE FERRAMENTA, corpulento e braços musculosos, aproximou-se de Tiãozinho e correu com a sua mão direita da nuca até as nádegas do recém chegado e foi logo falando com um sorriso aberto, mostrando seus dois dentes de ouro:

– Hoje temos um “petisquinho” novo pra comer…

Até ao anoitecer, as horas foram de apreensão e angustia para Tiãozinho. Estava decidido a morrer, mas jamais deixaria ser violentado por quem quer que seja .

Cai a noite. Entre os presidiários de sua cela há um clima de disputa: quem seria primeiro.

– Vamos pra porrinha – gaguejou Hilário, o mais franzino de todos.

Um frio correu por todo o corpo de Tiãozinho.

 Naquele momento de luta, a adrenalina lhe deu uma força sobrenatural  e, ele, se lembrou do seu herói predileto nos mais perversos momentos de vida no Velho Oeste:

TOM MIX…

(Foto:site Duro na Queda)

Ulisses Abreu

11/04/2022

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