História de Ouro Fino: O Santo de Pau Oco

(por Ulisses Abreu)

Corria, na época do Brasil colônia, a notícia de que havia grande evasão de ouro sem o pagamento do quinto ao Rei de Portugal. A sonegação se dava de várias maneiras, inclusive através de vigários constritos que transitavam com imagens de santos em madeira ocas e recheadas de ouro por dentro.

Eram os chamados SANTOS DO PAU OCO.

(Museu da Inconfidência)

A corrupção já era institucionalizada no Brasil e a punição nunca freou esse ilícito, mormente dos mais poderosos.

Francisco Martins Lustosa, dias antes de deixar OURO FINO (MG) para se refugiar no Paraná, foi protagonista de uma cena inusitada.

Acusado de extraviar ouro da Fazenda Real, Martins Lustosa foi chamado diante de um Juiz para assinar uma confissão de dívida, sem a qual seria preso.

Diante da presença do magistrado, Martins Lustosa, cabeça erguida, peito saliente e para mostrar-se bravo e brioso, foi logo dizendo em voz alta:

– NADA DEVO A REAL FAZENDA!

Nesse momento viu o tropel de muitos animais e, pela janela, pode observar que seu filho e genro, com vários outros cavaleiros, vinham em seu auxílio.

Agora, Martins Lustosa, com mais energia, pegou a pena de ganso, que deveria assinar o documento de débito e a passou para mão esquerda. Sacou o espadim da bainha e fez a pena de ganso em pedaços e, em seguida, inutilizou o documento, borrifando-lhe com a tinta do tinteiro.

Deposiphotos

O espanto dos presentes foi geral.

O Juiz estupefato e totalmente encolerizado, bradou obediência e respeito a alta autoridade ali presente.

E Francisco Martins Lustosa perguntou calmamente ao Juiz:

– Mas quem é mesmo um Juiz? Por acaso um Rei?

O Juiz, vendo aquele homem rodeado de jagunços, fortemente armados, responde:

– Um Juiz é a mais alta autoridade e, no exercício de suas funções, vale tanto ou mais que EL REI.

Era o que Martins Lustosa queria ouvir e imperiosamente exige:

– Sr. Escrivão, tome por termo as palavras em que um simples Juiz diz valer mais que EL REI.

Virando-se para os presentes, pede que sirvam de testemunhas.

– Sr. Escrivão, vamos ao termo.

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Nesse momento, os papéis se invertem. O Juiz humildemente pede desculpas, dando por finda a audiência.

FRANCISCO MARTINS LUSTOSA, O NOBRE FUNDADOR DE OURO FINO, DE MODO ALTANEIRO:

– Vossa Mercê é um BORRA BOTAS ( CAGÃO)

Assim, Francisco Martins Lustosa praticou seu último ato de bravura em Ouro Fino e partiu para o Paraná, LIVRE, LEVE E SOLTO…

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