História de Ouro Fino: A Virgindade!

CAPÍTULO VI

A VIRGINDADE

(Por Ulisses Abreu)

ZÉ RISCA FOGO viu, pela fresta da porta do quarto onde se refugiara, que aquele estranho homem, que se apresentava como Marcos Coscarelli  não lhe era uma pessoa desconhecida. Falava com seu avô sobre os italianos de Andradas com um sotaque meu cantado à paulista. Agora, sim, veio à sua lembrança a imagem do delegado, Dr. JACYR COZADINI, que vira diversas vezes estampado nas páginas policiais da Folha de São Paulo,

Era realmente o delegado COZADINI à sua procura pelo assassinato do Cabo Anselmo.

Ainda na boca da noite, Zé RISCA FOGO, sem que ninguém o visse, fugiu ladeira abaixo em direção a CRISÓLIA. Entretanto antes de partir, o fugitivo pensou também em estourar os miolos daquele policial, porém ponderou que poderia acarretar muitos problemas para seu avô já de idade bem avançada.

Como alguém que corre do seu próprio destino, na manhã do dia seguinte, na rodovia para CRISÓLIA, enquanto ZÉ RISCA FOGO pegava carona num caminhão carregado de café para beneficiar em Ouro Fino, o delegado JACYR partia da casa do seu CHICO para Andradas certo de que havia localizado o assassino do cabo Anselmo.

Para o delegado, a prisão de ZÉ RISCA FOGO era questão de horas.

 Sem destino certo, o pistoleiro, ao descer do caminhão, subiu pela linha de trem até chegar no “FAGÃOZINHO,” um velho prostíbulo ourofinense. Adormeceu ali sentado numa cadeira no salão aberto de um bar e só acordou bem tarde ao som alto de uma vitrola, tocando a música ‘INDIA’.

Ficou atônito, nunca poderia imaginar que aquela mulher que o recebera naquele puteiro de terceira categoria, transformar-se-ia naquele farrapo humano. Não, não podia acreditar que se encontrava diante de ANINHA, sua primeira namorada.

 Seu pai, um bem situado oficial do exército brasileiro, com várias condecorações por participar da II guerra mundial, jamais deixaria uma filha sua naquelas condições sub-humanas – imaginava naquele momento.

 ANINHA Não era mais aquela jovem negra, alta, de sorriso largo e dentes claros, corpo bem feito, olhos escuros e vibrantes, lábios grossos e carnudos, que davam ao seu rosto bem feito um ar de futuro promissor.

Agora ali na sua frente se encontrava uma mulher de corpo disforme, desdentada, com marcas de cortes no rosto e, em cada vinco de sua face, se via claramente projetada a dor e o sofrimento pelo qual passara.

ZÉ RISCA FOGO quis saber o que ocorrera com aquela mulher que ele amou tanto na sua juventude.

ANINHA ao mesmo tempo que falava, lágrimas que saiam de sua alma, corriam copiosamente:

 -Zé, perdi a virgindade com João de Elisa, meu segundo namorado. Meus pais, como quase todos os outros, eram muito rigorosos e conservadores. A virgindade para eles era um dogma. Expulsaram-me de casa ainda muito jovem, sem profissão e para onde ir.

 – Pensava em não me corromper. Com pequenos objetos pessoais sai em busca de trabalho doméstico. Uma mulher que me viu agachada chorando na esquina da Farmácia de Luiz Ulisses, levou-me até a casa    de dona ZIZINHA a mais famosa cafetina de Ouro Fino.

Ali aprendi a beber, fumar e me prostitui de vez.

– Hoje me considero um esgoto humano. Os homens que me procuram são de terceira categoria. Só ganho algo se me submeto ao sexo anal e ao oral.

– E quando estou com muita saudade da minha família, dos meus pais e irmãos, busco no álcool o consolo para minha alma amargurada.

–  Como tantas outras mulheres que foram jogadas no mundo da perdição ao perder a VIRGINDADE, não mais acredito em DEUS. QUERO APENAS MORRER…

Ulisses Abreu – 22/04/2022

(Ilustrações: Pinterest)

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