Amor a Roma

Já imaginei o mundo coração. Esse não sei se seria redondo ou quadrado. Nas artérias que o fazem pulsar estariam o bem querer e os braços seriam o perdão. “Pernas para que te quero”, essas seriam asas e pousariam sempre num arvoredo florido e perfumado como o meu pé de manacá.

A boca teria a forma da gaivota e riscaria no céu de Roma o som de “quando penso em você”. Lá no alto da colina a manhã seria alegria, gosto de fruta vermelha.

E ao sobrevoar o Atlântico buscaria a espuma das praias portuguesas. Ouviria os versos do poeta que chora e cria as águas do Mondego. Nelas eu seria sereia e levaria os marujos mar afora. Tão longe que esse Mundo Novo seria, não uma terra virgem, mas uma habitada por Amazonas, colares verdes e arcos nas mãos. Terra ocupada de afazeres mil.

Este mundo coração, som de mil cachoeiras, seria o labirinto sem o cordão vermelho. Ali todos se perderiam para sempre. Somente o boto rosa seria o caminho para outras terras mãe.

Nesse universo de riso, o mar seria doce como um caramelo, que desmancha nas línguas cansadas de histórias secretas das cabeças alucinadas, que devoram aquilo que o coração não diz.

Não seria possível viver ali sem antes plantar uma árvore em cada lugar visitado. O fel das palavras ditas no escuro céu seriam estrada impermeável, que fariam transbordar o viajante errante. Sem esperança de jardim, perdido e sem sono, sem conseguir alcançar o mundo impossível, agoniza nas cinzas da hora.

Esse mundo veneno viola a paz que habita o solo mãe, a terra nua e crua, que filtra os fluidos naquilo que é brejo e caranguejo cheio de lama.

O mundo coração é hermafrodita. Nele se planta e se colhe os frutos de uma paixão nova onde não existe nada que os defina, que os reduza a símbolos de vidas passadas.

Somente o desejo de cura semearia o ventre nessa lua cheia. Seria o esplendor de uma era pausada pela dor e por desespero ímpar. Uma sombra sem velocidade para alcançar o chegar no destino Planeta Água.

“Na despedida fez-se um dia lindo. Vejo o sol iluminando a Casa”.

Prefiro sonhar um mundo lindo quando eu voltar a Amar.

Prefiro um coração que pulsa quando eu voltar a Roma.

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