Conservação e Restauração Florestal: um novo paradigma de agricultura e pecuária
Os atuais modelos de produção de alimentos, fibras e energia precisam passar por transformações abruptas para que possamos continuar alimentando e fornecendo água para uma população mundial que está em constante crescimento, com projeção de mais 8 bilhões de pessoas em poucos anos. Infelizmente não há recursos naturais para tal façanha e as previsões não são nada animadoras caso o modelo atual seja mantido. Além disso, a temperatura do planeta continua subindo em razão da contínua e elevada emissões de gases do efeito estufa (CO2, CH4, NO2, entre outros).
Nessa temática um dos maiores desafios que foi discutido na COP 26 (26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), foi quanto cada país e indivíduo podem contribuir para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa. Por mais que pareça que o discurso tenha um tom de uma simples falácia, o correto é que todos têm compromisso com este problema e com o planeta.
Para mudar e ou minimizar as consequências deste cenário e com isso termos perspectivas mais animadoras é fundamental o envolvimento de toda sociedade para que a produção de alimentos, de água e promoção da descarbonização seja alcançada. Nesse sentido o Agronegócio é um dos setores que apresentam maiores estratégias e soluções a médio e longo prazo para alcançar estes objetivos.
Uma das alternativas que o agronegócio e toda sociedade pode contribuir para a qualidade do nosso planeta está alicerçado na manutenção e plantio de novas florestas, nativas ou comerciais. Novas florestas têm a capacidade de aumentar o volume de água nas nascentes e realizar a transpiração de águas, criando os “rios” voadores que auxiliam com a regularidade das precipitações (chuvas) regionais e até fora dos limites regionais.
Paralelo a isso, vale mencionar que outra estratégia do agronegócio é a implementação do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), visto que auxilia na recuperação de áreas degradadas, decorrente de atividades como o pastejo de animais. Como vantagem ás áreas reflorestadas contribuem para o aumento da biodiversidade que reflete numa flora e fauna mais rica, sendo que os recursos da flora podem ser utilizada como fonte de alimentos, medicamentos, cosméticos e outras tecnologias como produtos que ainda não descobrimos, gerando uma oportunidade de novos negócios, a chamada bioeconomia.
Estas áreas de matas ajudam a regular o microclima, evitando grandes amplitudes de temperaturas e aumentando a umidade relativa de modo local, regional e continental, a depender da extensão das áreas. Reduzem, também, o avanço dos processos de desertificação; promovem a estabilização dos solos, evitando a erosão; possibilitam a presença de inimigos naturais de pragas e de doenças fazendo com que haja menor uso de defensivos agrícolas (agrotóxicos); habitat para fauna polinizadora que ajuda na produção de alimentos, entre outros serviços ambientais relevantes proporcionados pelas florestas.
Portanto, o “agro” pode e muito contribuir para que isso aconteça por meio da manutenção e principalmente no plantio de novas florestas, visto termos assumido o compromisso de restaurar 18 milhões de hectares de florestas, para múltiplos usos, até 2030. Estas florestas poderão ser plantadas nas áreas de preservação permanente no entorno de nascentes, cursos d’água e topos de morro, contribuindo para os benefícios já citados e para o sequestro de carbono emitido pelas atividades antrópicas.
Essa restauração não deve ser vista como uma penalidade ao produtor rural, visto que os mesmos devem aderir ao Plano de Regularização Ambiental previsto na Lei 12.651/2012, podendo, ainda, estes produtores receber pelos serviços ambientais prestados pela sua propriedade.
Nesse contexto a realização de projetos que fortaleçam a introdução dessas novas florestas é imprescindível. Como exemplo tem-se o projeto do Conservador do Mogi, da cidade de Inconfidentes em Minas Gerais, que possui vários objetivos dentre eles: restaurar áreas de preservação permanente, aumentar o volume de água na bacia do rio Mogi, contribuir para uma agricultura mais diversificada e restauradora além de contribuir para o sequestro do carbono emitido por todos setores da atividade humana de forma direta ou indireta.
O projeto Conservador do Mogi é realizado com o apoio técnico do IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes e Plano Conservador da Mantiqueira e com fomento de iniciativas como a WWF, TNC, PROMANANCIAS/COPASA e Prefeitura Municipal de Inconfidentes. Com o apoio destas iniciativas são feitos trabalhos de prospecção de novas áreas a serem conservadas e restauradas, projetos de restauração, plantio e cercamento das áreas contempladas, implantação de práticas conservacionistas do solo (manutenção de estradas e construção de barraginhas) e de saneamento ambiental.
Os produtores aptos a receberem pelos Serviços Ambientais têm que atenderem a Lei Nº 1.297, de 29 de dezembro de 2017, que determina as regras para participação deste projeto. Para fazer parte desta política pública de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), os produtores rurais devem implantar e manter as áreas de Preservação Permanente (APP) e ter, no mínimo, 20% da área total da propriedade com cobertura florestal nativa declarada no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
O Valor que cada produtor pode receber é de até 100 unidades fiscais municipais (UFM) por hectare, sendo que o produtor alcança este valor quanto atinge as metas de cobertura florestal, implantação de agricultura sustentável e de saneamento ambiental na propriedade. Desse modo, estas novas áreas contribuem para uma produção mais sustentável de água, alimentos, energia, fibras dentre outros produtos, além de contribuir para a captura do carbono da atmosfera, trazendo benefícios para toda a sociedade.
Então, nada mais justo que estes atores do agronegócio tenham o reconhecimento de toda sociedade pelos serviços prestados e recebam por estas ações.
Autor: Bruno Manoel Rezende de Melo, Tecnólogo em Cafeicultura, Doutor em Agronomia/Fitotecnica. IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/4059991435170878
Autor: Lilian Vilela Andrade Pinto, Engenheira Florestal, Doutora em Engenharia Florestal. Professora Titular do IFSULDEMINAS-Campus Inconfidentes.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1802821549195333
Autor: Ariana Lemes da Costa, Doutoranda em Agronomia/Fitotecnia. Universidade Federal de Lavras.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/9079201829592452
Autor: Amane Gouvêa Alexandre, Engenheira Agrônoma.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/4697388561533686