Culturas e Identidades Brasileiras


Ao assistir o espetáculo “Cortejo de Memorias” dirigido por Adolfo Barreto, em um determinado momento, uma das atrizes participantes, chegou até nós e perguntou se tínhamos lembranças da Sexta-Feira Santa da Paixão… muitos de nós dissemos que sim… e logo ela fez outra pergunta, se as lembranças nossas da Sexta Feira da Paixão tinham referências no catolicismo ou se tínhamos referências em outros espaços culturais ou religiosos …. e nós falamos que nossas referências eram do catolicismo, nossas lembranças vêm dessa tradição ocidental europeia. E isso me instigou a escrever esse artigo sobre Culturas e Identidades Brasileiras.

Somos um povo com matrizes indígenas, europeias e africanas. A identidade de um povo é fonte de significados, experiências de uma nação, de uma etnia, de um grupo social. Essa identidade vai se arquitetar por meio de atributos culturais que são compartilhados entre os membros dessa cultura.

É necessário se lembrar que a identidade é relacional, ou seja, eu defino a minha identidade a partir de qual é a identidade do outro. A identidade também é dinâmica. Pode se modificar, não é estável, não está fechada, não está pronta, mas sim em construção. A identidade modela os grupos, indivíduos e as formas como essas pessoas convivem entre si.

Outro conceito que brevemente abordo é sobre a identidade nacional, que é tudo isso, mas referenciado a uma nação, fazendo com que os indivíduos que lá estão, sintam-se parte integrante de uma sociedade. Revela a identidade que se tem de uma nação através de sua bandeira, hino, o modo de se vestir, o modo de falar. Tudo isso representa elementos da identidade nacional.

Cabe também pensarmos nas fronteiras étnicas dessas nações com o objetivo de compreender as dinâmicas do grupo, então, nós aqui da América do Sul, falamos português, mas os nosso colegas vizinhos falam espanhol. O por quê disso ocorrer? Porque que até a Uruguaiana do Rio Grande do Sul se fala português? E no Uruguai e na Argentina se fala espanhol? Para compreendermos a identidade nacional, temos que compreender também como que historicamente se deram essas fronteiras. E em relação a identidade brasileira nós podemos pensar que certos grupos definem os elementos culturais que estarão presentes e aparecerão como identidade própria, identidade brasileira, então há uma hegemonia em relação aos elementos que são definidos como próprios da identidade brasileira.

De alguma maneira podemos dizer que o discurso dessa identidade brasileira é uma estratégia de poder, ou seja, um grupo que talvez não seja, não represente toda a cultura brasileira, define o que é nossa identidade. Geralmente um grupo hegemônico define o que é a identidade brasileira, não de uma forma totalmente consciente, muitas vezes é inconsciente. Em relação a identidade brasileira parece que os brasileiros são homogeneizados, o que é uma grande mentira, parecem que são iguais e desconsideram algumas especificidades locais e mesmo suas imensas diversidades, mas isso é o modo como é apresentado, a identidade brasileira é quase que um sumo de pessoas esbranquiçadas, mas também não significa que todo mundo vá se identificar com o que é proposto como a identidade brasileira, muita gente não gosta de carnaval, muita gente não sabe sambar e o carnaval é reconhecido como algo da identidade brasileira! Muita gente não se identifica com as religiões de matrizes europeias… Existe um Brasil profundo, invisível, que não é retratado, que sai da nossa esfera de campo de visão. Pois a identidade é composta por várias feições, valores e expressões culturais, ainda que muitas vezes se valorize apenas certos elementos, na sua maioria de matriz europeizada que ainda é arraigada em nossa sociedade. E isso nos leva a pensar: Em quais elementos culturais nos reconhecemos? Quais são as histórias que compõe a nossa nação? Quem somos? Quem gostaríamos de ser?

Como a nossa identidade está em constante construção, devemos refletir para analisar como será construída.


Adriana Pennacchi Monteiro
Referência Bibliográfica: Antropologia e Cultura, Priscila Farfan Barroso, editora ABDR – edição 2017

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