História de Ouro Fino

DANÚBIO AZUL – UM PASSEIO NO TEMPO

O mundo do sexo em Ouro Fino se encontrava em festa. A Praça da Estação passou por uma limpeza geral. As guias das calçadas foram pintadas à cal, as gramas entre paralelepípedos arrancadas e todo o Largo cuidadosamente varrido. As charretes de aluguel de AMÉRICO GUIDI se postavam enfileiradas na Praça com seus irrequietos animais de melhor qualidade, agora passados por uma rigorosa toalete: banhos, crinas feitas e rabos afilados na espera das famosas visitantes paulistas.

Na plataforma da Estação, muitos homens e jovens estudantes de férias, na expectativa, esperavam a chegada de Eny Cezarino e suas meninas, vindas de BAURU, via Itapira.

Eny Cezarino era uma das mais famosas meretrizes dos Estado de São Paulo, influenciadores de meninas para o sexo e respeitada pelos mais diversos políticos, que frequentavam a sua grande e luxuosa casa noturna em Bauru.

A cortezã e sua comitiva se despontavam como grandes estrelas na condução dos acontecimentos, que abrilhantariam aquela noite de inauguração. A grande festa de reinauguração da Taberna DANÚBIO AZUL  em Ouro Fino, localizada na Rua Treze de Maio, com uma estrutura digna de inveja aos grandes cabarés europeus.

A pompa, o luxo e a beleza das meninas de Eny transmudaram as  principais ruas de Ouro Fino, num estrondoso chamamento dos homens para uma festa de beleza e sexo nunca vista na cidade. As relíquias da festa desfilavam pela cidade com seus longos vestidos multicoloridos e chapéus enfeitados de penas de pássaros raros, exibindo rostos angelicais e fartos bustos, num despertar de ímpetos masculinos dos mais sérios e bem casados senhores.

Às 23 (vinte e três) horas, antes do grande baile, o concurso de beleza das meninas moças, que selecionadas, ocupariam os 15 (quinze) quartos luxuosamente inaugurados para receber os ávidos visitantes do sexo.

Carmencita Castela, uma descendente de espanhóis da Colônia, foi eleita a mais bela de todas as 15 (quinze) selecionadas e deveria ser rifada entre os homens presentes para servi-lo aquela noite.

Gustavinho Juncati, um simples cafeicultor do Peitudo, impulsionado pela bebida e num gesto tresloucado, arrematou, num grande lance, o direito de passar a noite toda com Carmencita. Isto não ocorreu. O serviço de quarto não demorou muito por que Carmencita descartou Gustavinho, sob a alegação de que se encontrava indisposta e com dor de cabeça.

O baile já havia iniciado com a imortal valsa DANÚBIO AZUL de JOHANN STRAUSS e seguia animado, porém Gustavinho não conseguia, naquele ambiente festivo, conter a dor do fracasso no quarto e o arrependimento por ter, num lance apenas do leilão, gasto toda dinheiro de um ano na lida do café.

Meio atordoado, Gustavinho pegou seu animal e sumiu na fumaça da noite. Na estrada de chão batido, o desespero, a angústia e o remorso corroíam a alma de Gustavinho. A depressão aumentava ao imaginar como iria justificar para sua mulher o sumiço do dinheiro.  Fora ela quem ajudara na “panha” do café, na “limpa”, na secagem no terreiro até o seu beneficiamento. E agora! O peso de sua consciência se tornava a cada momento um fardo atroz.

Como um celerado, que apenas queria morrer naquele instante, enveredou o seu cavalo num socavão da Mata da Onça e se pôs a gritar:

ONÇA VEM COMER GUSTAVINHO, ONÇA VEM COMER GUSTAVINHO…

Ulisses Abreu.

25/05/2022

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